Pode um Fusca enfrentar um Porsche de última geração?
Isso ocorreu nas Mil Milhas. E deu o que falar
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Em comum, eles só têm a origem: os projetos de suas primeiras versões foram as obras mais importantes do famoso engenheiro Ferdinand Porsche. Mas as relações entre ambos terminam aí, especialmente quando se trata de disputar uma corrida. E foi isso o que se viu em Interlagos, na 23ª edição das Mil Milhas Brasileiras. A prova nacional de longa duração mais prestigiada foi disputada em 27 de janeiro.
Numa ponta do grid estava o Porsche 911 GT3 RS do quarteto formado por Max Wilson, Régis Schuck, Flávio Trindade e André Lara Resende, que obteve a pole position. Trata-se da última e mais moderna versão do bólido, saído recentemente da linha de montagem. No outro extremo, em penúltimo lugar, alinhou o Fusca 1985 da dupla Edson Vicençotto e Zarrir Abede Júnior. O tempo do Porsche foi de 1min40s274, à média de
O regulamento da badalada prova de resistência permite a participação de grande variedade de carros — de performances também muito distintas. Este ano, ela foi marcada pela discussão entre os pilotos de carros velozes com os de desempenho mais modesto.
Além do Porsche que largou na primeira fila e venceu, carros como o protótipo com motor BMW de Nelson Piquet — que teve como parceiros o sobrinho Rodrigo Piquet e Mário Haberfeld, da F 3000 — conviveram por quase 12 horas com o que os mais críticos chamavam de "chicanes móveis". Era uma multidão de Corsas, Voyages e outros modelos igualmente ultrapassados e pouco potentes.
"O pessoal que roda mais lento não abre mão de ficar no traçado", reclama o piloto Tino Viana, um especialista em ralis que fez dupla com Jair Bana em um protótipo Aldee 2000 e conseguiu um espetacular segundo lugar na classificação geral dos 63 inscritos. "Quem está mais rápido tem preferência. Não é assim na F 1"
Nem sempre. E Fuscas, Corsas e Voyages não correm na F 1: "O principal problema é que os carros são muito diferentes, do motor à carroceria", pondera Wilson, que é piloto de F Cart. "Com carros iguais, como na F 1 e outras categorias, o piloto sabe que se ganhar terreno em relação a outro concorrente, esse espaço será pequeno. Nas Mil Milhas, um Porsche pode estar a
Na classificação, no caso do Fusca e de outros carros mais lentos, o bólido alemão chegava a rodar até
Perigo na noite
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A situação se agrava à noite, quando é mais difícil identificar o carro que vem atrás. "Pode ser um Porsche, um protótipo, um Corsa, qualquer coisa. Só que a diferença de aproximação de cada um é enorme, difícil de calcular no escuro", diz Wilson. Outro perigo é um carro muito veloz encontrar um lento no meio da curva: "Às vezes você é obrigado a desacelerar bruscamente para não bater. Aí, o risco é rodar, pela tendência de o carro escorregar de traseira", explica o vencedor.
Mas que ninguém imagine que os pilotos dos veículos mais lentos simplesmente relaxam e se deixam ser ultrapassados. "Em duas ocasiões, tive de dar passagem para carros mais rápidos", conta Edson Vicençotto, quando estava em 45ª lugar. "Saí do traçado, me prejudicando, para não correr o risco de nos darmos mal. Mesmo quem anda atrás precisa estar atento. Quando o Porsche ultrapassava, a força do vento até balançava nosso carro e ronco do motor estourava nos ouvidos. Se nós nos embolássemos na pista e batêssemos, não sobraria nem o certificado do Fusca para contar a história , mas mesmo assim terminamos a prova passando na bandeirada uma Porsche quebrada e levando o primeiro lugar da categoria 1600cmª.
Em uma coisa todos concordam: desde que o regulamento permita, os donos de veículos modestos têm tanto direito de correr quanto a turma dos importados. Mas os dias dessa briga desigual estão contados. "As Mil Milhas chegaram a um nível que não permitem mais a convivência desses veículos com os de alta tecnologia", avisa Antônio de Souza, promotor da prova e responsável pelo regulamento. Souza decidiu optar pela segurança dos participantes. "Vamos estabelecer um índice técnico. Em princípio, quem obtiver um tempo superior a dois minutos nas tomadas de tempo não poderá competir", adianta ele. É uma má notícia para os admiradores da criação mais popular de Ferdinand Porsche.
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